East End, 7 de Agosto de 1888.
Bar Angel and Crown
As chamas das velas dançavam com a brisa quente que entrava pelas janelas. Mesmo tão tarde da noite, East End não dormia; uma mancha no mapa do Império Britânico, a pouca distância da capital, a escuridão profunda de suas vielas sujas e estreitas acobertava o crime e devassidão que assolava os distritos pobres.
- Veja, Emma. Eles estão olhando para cá. Seja adorável.
Duas moças apáticas sentavam-se à uma mesa do bar, bebendo cerveja barata. Dois homens murmuravam em outra mesa, observando-as.
- Gostou deles, Poll? - A outra deu um risinho, tomando mais um gole de sua bebida.
Seu nome não era Emma. Na verdade, nem sabia porque havia mentido para sua nova amiga; Martha só sabia que precisava esquecer. Seu marido lhe expulsara de casa, cansado de sua bebedeira, e agora ela morava nas ruas. Precisava de dinheiro. Já tinha quase 40 anos, e não era nenhuma beldade, mas nenhum homem se importava com isso na escuridão.
- Façamos dessa forma - Poll disse, em tom de quem tem um plano. - Vamos dividir um quarto. Com o resto do dinheiro, podemos almoçar como rainhas amanhã.
- Ou beber.
- Rainhas não bebem até morrer, sua tola - Poll retrucou, impaciente - E você deveria parar de tentar fazê-lo. Venha.
As duas levantaram-se, andando até a saída do bar. Quando se viraram, do lado de fora, os dois homens haviam seguido as duas.
- As senhoritas estão disponíveis para compania esta noite, queridas?
- Sempre! - Poll exclamou, com um risinho. Deu uma cotovelada em Martha, encorajando a amiga a acompanhar o outro.
Eram dois moços bonitos, ela pensou. Logo Poll saiu com seu par, ele com seus braços ao redor dos ombros da moça, que acenou uma despedida.
- Venha - O par de Martha fez o mesmo, e ela achou suas mãos muito geladas.
- Onde vamos?
- Um lugar onde não seremos interrompidos.
Ela não gostava de ir a lugares desconhecidos, e protestou.
- Não, eu conheço um lugar melhor. É mais calmo e--
- Você vai onde eu mandar, mulher.
Martha se desvencilhou dos braços de seu par, assustada. A voz, agressiva, soou como se fosse duas vozes em uma.
- Qual... Qual é o seu problema?!
O antes elegante rapaz observava-a, parado, e ela viu seus olhos: Totalmente negros, sem pupilas. Ele fez um leve gesto com a cabeça.
- Muito bem. Sempre é mais divertido assim - Ele riu, uma risada gélida e cruel. Martha sentiu frio de repente.
- Me deixe em paz!
Martha correu desabaladamente pela rua escura, desorientada pela névoa densa que subira repentinamente. Ela ainda ouvia os passos atrás dela quando virou a esquina. Percebeu luzes de velas, vindas de um prédio baixo, e entrou correndo pela escadaria.
- Por favor, me ajude! Socorro!
A névoa era tão densa, mesmo dentro do prédio, que ela mal via a porta em que estava batendo. Virou-se, encostada na porta, ao ouvir os passos subirem a escada. Mas eles pararam.
Martha soltou a respiração. Ele teria desistido?
Ela gritou quando um rosto cruel apareceu de repente na frente do seu, e um golpe em sua garganta silenciou seu pedido de socorro.
O sangue escorreu pela escadaria. Um riso macabro ecoou pelo corredor, antes de calar-se subitamente...